Eurocare, o mais importante estudo cooperativo acerca da sobrevida dos pacientes europeus tratados de câncer, informa em sua última publicação que, dentro da União Européia, existem grandes diferenças de um país a outro no que se refere à cura dos cânceres em geral e do câncer de mama em particular.
Com relação às diferenças existentes entre população feminina e população masculina, foram analisados 1,6 milhão de casos de câncer (26 localizações) distribuídos em 23 países. No geral, a sobrevida é significativamente superior entre as mulheres.
Na França, por exemplo, estima-se que 58,6% das mulheres atingidas por cânceres de qualquer tipo ficam curadas enquanto que o percentual de cura é de somente 38% na Polonha.
No que se refere especificamente aos cânceres de mama, o percentual de cura é de 73,4% na Suécia, 73,2% na Finlândia, 72,9% na Espanha e 72,8% na França. Na outra extremidade da escala fica a República Checa com apenas 54,7%.
Como se vê, em países que investem no acesso democrático à prevenção secundária (exames de rastreamento) e no tratamento precoce e adequado do câncer de mama, os níveis de cura são bem mais altos que nos demais.
Note Bem: o Instituto Nacional de Câncer da França esclarece que “cura” é diferente de “sobrevida relativa cinco anos após o diagnóstico”. Fala-se de “cura”, diz ele, quando o risco de morte cai ao mesmo nível daquele da população da mesma idade e do mesmo sexo. O estudo estimou isso partindo de um modelo matemático.
Aqui no Brasil, a situação é desoladora para a maioria das mulheres que se virem atingidas por um câncer de mama. Quando, em abril de 2004, o Ministério da Saúde publicou o Documento de Consenso para o Controle do Câncer de Mama, a iniciativa mereceu aplausos. Na ocasião, o Dr. Mário Mourão Netto, diretor do departamento de Mama do Hospital de Câncer de São Paulo, fez questão de insistir: “O importante é garantir o acesso“. E fez uma declaração impactante: “Hoje em até 80% dos casos a detecção é tardia. O câncer da mama é um problema de saúde pública. Mas a mulher sempre esteve relegada ao segundo plano.” (Folha online, 2/04/2004).
A esperança, porém, duraria pouco. Logo veríamos que as taxas de mortalidade pela doença não pararam de subir, e isso, sem contar as numerosas subnotificações.
No dia 29 deste mês, entra em vigor a lei federal 11.664/08, que garante, através do SUS e seus conveniados, assistência integral à saúde da mulher, mamografia gratuita para todas as mulheres acima dos 40 anos e exame citopatológico do colo uterino, também gratuito, a todas as mulheres que já tenham iniciado sua vida sexual, independentemente da idade, além de tratamento e exames de controle.
Pois é, dessa vez vamos exigir que as boas intenções saiam do papel e entrem mesmo em vigor! Que a lei seja pra valer! Proponho dirigirmos uma petição coletiva às autoridades competentes cobrando sua implementação em todo o território nacional e acompanhando, passo a passo, essa implementação. Que acham? Enquanto aguardo sugestões, vou encaminhar este post à Direção da Ampasa (Associação Nacional do Ministério Público de Defesa da Saúde).
Fontes: European Journal of Cancer – EJC, vol. 45 (ed. 6), 901-1094; Institut National du Cancer, Nouvelles données de l’étude européenne Eurocare 4 sur la survie après un cancer (27/03/09). Lei federal brasileira nº 11.664/2008.
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